segunda-feira, 1 de setembro de 2014
A Bela Espiã - Capítulo 03
Um som insistente e agudo fez com que Demetria saísse de um sono pesado. O telefone na cabeceira não parava de tocar e ela atendeu ainda mal conseguindo abrir os olhos.
— Alô?
— Você é mesmo incapaz de fazer as coisas certas, não, Demetria? Tinha que estragar tudo, como sempre!
— Selena? Sobre o que está falando?
— Eu devia despedi-la, "querida irmã"!
— Pelo amor de Deus, acalme-se, Selly! Diga ao menos o que fiz de errado.
— Não me chame de Selly! Sem perceber Demetria cometera o erro de chamar a irmã pelo nome carinhoso que o pai costumava usar. Esperou com paciência pela fúria que qualquer lembrança relativa a
Charles Lovato sempre provocava em Selena.
— Você vai se arrepender muito, Demetria... principalmente quando Joseph chegar aí! Tenho a impressão de que vai se arrepender de ter nascido! Completamente confusa, Demetria não podia imaginar como Selena pudera saber sobre a noite anterior.
— Joseph? O que tem ele a ver com a nossa conversa, Selena?
— Que tal ele é?
— Como? Não entendo...
— Joseph é tão sensual quanto parece? Quero dizer na cama, sua boboca. Quem iria imaginar que a nossa puritana Demi...
— Selena, não tenho a menor idéia do que está querendo dizer!
— Não mesmo? Pois deixe-me esclarecê-la, queridinha. Hoje exatamente às quinze para as oito, Joseph Jonas apareceu no escritório para falar com você. Quando eu lhe disse que só chegaria às nove e meia, ele exigiu seu endereço.
— Selena, você não disse onde eu morava, não é?
— Está maluca? Lógico que disse e bem depressa. Ninguém consegue dizer não a Joseph Jonas. Aliás... quem melhor do que você para saber disso? Depois da noite passada, deve saber como ele é insistente. Dou a mão à palmatória, "irmãzinha"! Você deve ter algum segredo que encanta os homens, pois Joseph parecia estar ansioso para repetir a dose. Mas estou avisando. Tome cuidado e faça seu jogo bem direitinho! Ouvindo a risada sarcástica, Demetria desligou o telefone com raiva. Jamais conseguiria entender como um homem amoroso e delicado como Charles Lovato pudera ter uma filha tão maldosa como Selena. Desde que a conheceu, Demetria tentara ser gentil e não criar casos, mas a outra a perseguira implacavelmente. Quando Charles se casara com a mãe de Demetria a situação se tornara bastante
difícil. Era uma garota tímida e carente de afeto. Charles a apoiara e conseguira fazê-la sentir-se amada. Com uma paciência infinita, ele a conquistara, mesmo que com isso provocasse um ressentimento violento na filha. Desde essa época Selena a culpava pela perda da afeição do pai e no fundo ela se
sentia mesmo culpada por isso. A irmã não perdia uma única chance de lembrar-lhe essa culpa, torturando-a a todo momento. Demetria fechou os olhos, tentando afastar a mágoa que aquelas lembranças provocavam. Às vezes, tinha a sensação de que sua vida era uma enorme confusão, cheia de surpresa. Joseph... como pudera abrir mão dos princípios cuidadosamente alimentados durante anos? Havia jurado jamais se envolver com nenhum homem e no entanto... Bem, agora restava o consolo de saber que esse fato jamais tornaria a acontecer. Pelo menos, não com Joseph Jonas.
Levantando-se de um salto decidiu que precisava enfrentar mais um dia de trabalho, deixando de lado a angústia. De nada adiantava ficar na cama se lastimando. O que estava feito, estava feito, e pronto. Depois de um banho rápido, Demetria vestiu um velho roupão de veludo lilás, aplicou a maquilagem leve que usava para ir trabalhar e deixou para pentear os longos cabelos loiros depois do café. Ao atravessar a sala, ainda parou um instante, observando cada detalhe daquelas peças, herdadas de sua mãe. Eram antiguidades muito valiosas, principalmente pelo amor e carinho com que tinham sido reunidas. A decoração criava um ambiente aconchegante, cuja característica mais evidente era a simpática mistura de estilos e épocas.
O cristal lapidado dos abajures de cristal francês refletia a luz da manhã, formando um bonito jogo de sombras na madeira polida dos aparadores de estilo inglês e na lã macia dos tapetes persas. Um conjunto de sofá e poltronas de junco chinês laqueado de preto, antigo e bastante usado, tornava-se mais alegre pelo tecido de flores miúdas em tons de azul. Aquela sala sempre lhe transmitia uma sensação de paz, ela pensou, com um suspiro. Era como se estivesse ao abrigo das hostilidades. Como se fosse de propósito, exatamente nesse instante o toque estridente da campainha provocou-lhe um sobressalto. Quem mais podia ser? Joseph Jonas não perdera tempo! Com o coração aos pulos, Demetria caminhou devagar até a porta. Afinal, homem nenhum poderia magoá-la mais do que já sofrerá no passado, pensou. Não tinha medo dele.
No entanto, nem teve tempo de preparar-se para a invasão que se seguiu. Joseph, acompanhado de Nicholas empurraram-na sem cerimônia e entraram. Furiosa, Demetria parou com as mãos na cintura e olhou-os com ódio. Como se atreviam a agir desse modo em sua casa? O que ela não se deu conta foi do impacto que causou nos dois homens. Seus longos cabelos dourados caíam como um véu brilhante e o roupão, mal fechado, oferecia uma visão generosa dos seios perfeitos e quase totalmente descobertos.
Tenso e tomado pelo desejo de tocá-la, Joseph precisou de todo seu controle para disfarçar a perturbação.
— Bom dia, Demi. Temos que terminar de resolver alguns negócios, lembra?
— Não tenho a menor idéia do que possam ser esses negócios, sr. Jonas!
— Creio que estes papéis a esclarecerão, é só lê-los — explicou Joseph, entregando-lhe uma folha de papel timbrado. Em seguida, sentou-se muito à vontade no sofá, colocando os pés sobre a preciosa mesinha de laca chinesa.Ao vê-lo tão descontraído e arrogante, agindo como se fosse um freqüentador íntimo
de sua casa, Demetria perdeu os últimos vestígios de calma. Além disso, Nicholas a examinava com um sorriso malicioso, como se ela fosse mais uma das inúmeras conquistas do playboy Joseph Jonas!
— Não os convidei a entrarem em minha casa! — explodiu, jogando o papel sobre a mesinha. — Vou tomar o meu café e por isso, se me derem licença...
— Posso tomar uma xícara também, Demi? Esse diabo do Joseph me arrancou da cama tão cedo que não tive tempo de fazer nada...
Sem responder, ela deu-lhes as costas e foi para a cozinha. Encostou-se à porta para tomar fôlego, morta de raiva. Aqueles olhos verdes! Droga, até quando aquele demônio continuaria torturando sua vida? Bastava ver-se diante dele para que seu corpo ardesse, inflamado de desejo. Antes tudo não passara de uma fantasia louca, mas agora que o conhecera sentia-se dentro de um turbilhão. Queria desesperadamente ser envolvida pelos braços fortes e fundir-se àquele corpo musculoso e viril que a levara ao delírio.
"Não, não, não", murmurou, desesperada. Joseph não era diferente dos outros homens, não devia deixar-se levar pelo fascínio. Todos os seus sonhos e esperanças tinham sido destruídos muitas vezes para que confiasse novamente em algum representante do outro sexo.
Enquanto arrumava a bandeja de prata com as xícaras para o café, Demetria tentou não pensar em Stwart Steel. Mas a figura marcante de seu pai não era fácil de ser esquecida. Homens como ele deviam ser punidos pela lei. Mas Stwart sempre fora brilhante... Jamais agredira fisicamente a esposa ou a filha. Usava sua inteligência e seu sarcasmo para destruí-las e reduzi-las a criaturas derrotadas e sem vontade própria. Cicatrizes muito profundas que a magoavam até hoje voltaram à tona e Demetria sacudiu a cabeça, num
gesto inconsciente. Era preferível enfrentar os dois irmãos que a esperavam na sala do que
os fantasmas do passado. Depois de servi-los, ela pegou o papel que Joseph lhe entregara pouco antes e começou a lê-lo. Observando-a, Joseph ficou em dúvida se não estaria sendo muito precipitado em
deixar-se conduzir pelas emoções. Mas o fato é que aquela mulher o atraía terrivelmente. Não podia mais imaginar uma noite longe dela. Claro, pensava apenas numa companheira que lhe desse prazer. Não seria por muito tempo, mas, enquanto a paixão durasse, queria Demetria sob seu controle. Ao ler as primeiras linhas, Demetria sentiu como se tivesse levado um soco. Incrédula, começou tudo de novo, achando que havia se enganado. Mas não. Aquelas palavras abomináveis saltavam diante de seus olhos.
— "Eu, Demetria Lovato, concordo com o seguinte..." — leu em voz alta. — Você quer que eu assine um documento que o isenta de qualquer responsabilidade caso eu tenha um filho? O que significa isso, Joseph? Só pode ser alguma brincadeira de mau gosto! Inclusive a não usar o nome da família ou receber auxílio financeiro... Que loucura!
— Ouça, Demi... Talvez haja algo que você não tenha entendido e foi por isso que trouxe Nicholas comigo. Além de ser o advogado das empresas Jonas, é meu advogado particular. A vergonha que ela sentiu foi tão grande que lhe provocou náuseas. Saber que Nicholas fora informado de todos os detalhes da noite de paixão que passara com Joseph era uma humilhação brutal. Jamais fora tão insultada nem se sentira tão degradada em toda a sua vida!
— Sei o quanto isso pode ser embaraçoso, Demi... Só lhe peço que imagine o quanto Joseph é visado por oportunistas e caçadoras de dote. Uma ação para provar a paternidade de uma criança é muito difícil... E afinal, foi você quem se ofereceu a ele, não?
— Cale a boca, Nicholas! Demi, eu não disse isso a ele, acredite! Ela o fuzilou com os olhos antes de jogar o papel sobre a mesa.
— Vocês têm dois segundos para sumirem daqui! Fora!
— Demetria, você vai assinar este papel, nem que eu precise... Os dois se encararam em silêncio, ele ameaçador, ela furiosa. Demetria sentia vontade de esbofeteá-lo, de gritar, de fazer qualquer coisa para acabar com a situação ridícula e descabida que havia se criado. Nicholas observava a cena, entre divertido e preocupado. De repente, a expressão dela mudou, tornando-se irônica. Se Joseph Jonas achava que
podia tratá-la desse modo, estava muito enganado!
— Pensa que sou idiota, Joseph? — perguntou num tom deliberadamente cínico. — Uma cabeça de vento como as suas debutantes, prontas a ceder aos seus desejos? Pois se enganou comigo! Em primeiro lugar, uma única noite não significa que eu esteja grávida; aliás, pelas estatísticas, isso seria muito difícil. Em segundo, esse acordo é totalmente a favor dos Jonas e eu quero os meus direitos! Onde está escrito como serei protegida pela lei?
— Ora, Demi! Você é quem pode levar vantagens neste caso. Eu sou o lesado, esqueceu?
— Não diga! Pois vejo as coisas bem diferentes. Se eu assinar, estarei cedendo todos os meus direitos, inclusive a possibilidade de ficar com meu filho, se Joseph assim exigir! Onde está a integridade de que a família Jonas tanto se gaba? Diga-me, Nicholas, se eu fosse sua cliente, me aconselharia a assinar este papel?
— Bem... não a deixaria fazer isso. Na verdade, diria que o rasgasse em mil pedaços!
— Nicholas! Pare de se meter onde não é chamado!
— Sinto muito, Joseph. Não sou seu advogado, Demetria, mas conheço bem meu irmão. Se você não assinar, ele tornará sua vida um inferno, mas assim mesmo concordo que é um documento em favor dos Jonas. Talvez fosse melhor redigir um novo texto, com referências precisas aos seus direitos. Eu sei que não tinha planejado ir para a cama com Joseph, mas ele também não podia saber que você era...
— Cale a boca, Nicholas! Nicholas, com a maior calma, levantou-se e pediu para usar o telefone da cozinha, deixando-os a sós, de propósito. Demetria encarou Joseph com tamanho ódio que ele quase recuou. Antes que ela dissesse qualquer coisa, apressou-se em se justificar.
— Ele é meu irmão, Demi, meu confidente. Não há motivos para ficar embaraçada. Mas você há de concordar que é muito estranho uma mulher, de vinte e sete anos, ter ficado até agora... quer dizer, até ontem, sem... sem...
— Sem experiência?
— E, afinal, hoje em dia...
— Não tive tempo, meu caro.
— Essa é a resposta mais idiota que já ouvi!
— Pois é a única que um idiota merece.
A porta da cozinha se abriu e Nicholas apareceu, dirigindo-se a Joseph.
— Há problemas sérios no escritório, Joseph, precisamos ir já. Sinto muito interromper essa visita tão agradável, mas... Contrariado, Joseph levantou-se e Demetria nem se deu ao trabalho de acompanhá-los até a porta. Tudo o que desejava era ver-se livre dos dois. No entanto, depois que se passaram alguns minutos, ela correu até a janela e afastou ligeiramente as cortinas. Os dois irmãos conversavam diante dos carros. Da mesma altura e bastante parecidos, o que os distinguia era a aura de domínio e autoridade que emanava de Joseph. Demetria viu-se outra vez dilacerada pelo conflito interior. A razão lhe dizia que precisava afastar-se dele antes que tudo estivesse perdido, mas a atração parecia irresistível, mesmo depois daquele confronto absurdo. Ela pressentia que o comportamento
de Joseph refletia a reação dele e alguma coisa que o atingira profundamente. Talvez não estivesse acostumado a perder o controle da situação e por isso tentasse um recurso extremo, para humilhá-la e assim quebrar-lhe a resistência. De qualquer forma, o episódio da noite anterior não iria se repetir, prometeu a si
mesma. Nem que precisasse fugir da cidade, do país... Não, Joseph Jonas jamais dominaria sua vida, como estava acostumado a fazer com os outros!
— Francamente, Nicholas! Com você por amigo quem precisa de inimigos? Afinal, o
que estava pretendendo fazer, jogando dos dois lados?
— Testando os limites de resistência de Demetria, meu caro irmão. Aliás, depois desse resultado desastroso, não creio que você tenha coragem de lhe entregar os outros contratos... Com um gesto brusco, Joseph retirou do bolso do paletó o contrato de emprego e suas ofertas para estabelecê-la como amante e picou-os em mil pedaços, jogando-os pela calçada.
— Se pudesse ver a sua cara quando Demetria disse que não era igual às suas debutantes de inteligência microscópica. Aliás, é a pura verdade. Essa mulher é incrível!
— Deixe de bancar o Judas! Você quase passou para o lado dela. Mas há uma coisa que me intriga, Nicholas. Demetria manteve o sangue-frio, sem dúvida, mas parecia existir medo atrás da fisionomia supostamente serena. Estou ficando louco ou você também percebeu?
— Ela é uma mulher cheia de contradições, e creio que você tem razão, Demetria está apavorada com alguma coisa, não sei bem o quê.
— Não pense que o medo vem da possibilidade de ser desmascarada. Demetria não é a culpada da venda dos nossos segredos. E outra coisa, Nicholas. Não gostei nem um pouco de ser afastado de lá contra a minha vontade. Você nem me deixou terminar.
— Havia motivos, Joseph. Estamos com problemas bem mais sérios! O nosso enviado
foi assaltado no aeroporto de Orly, em Paris. A polícia francesa nos comunicou que ele está ferido, sem perigo de vida, mas a pasta foi roubada.
— Meu Deus! Os contratos para os três engenheiros especializados em desenho de computadores estavam nessa pasta... E também os cálculos para os gastos do nosso novo projeto. Se não me falha a memória, havia também uma carta pedindo que reforçassem a segurança. Que ironia, não acha?
— Isso não foi tudo, Joseph. Os contatos de Ashley na E.T.A. Oil o informaram de que compraram no mercado negro europeu uma parte de nossos planos sobre o novo computador. Ainda não conseguiram decodificá-los, mas estão sabendo que a Jonas tem pesquisado e pretende lançar no mercado um novo tipo de computador especializado em pesquisas petrolíferas. As especificações do desenho da válvula, que foram traduzidas para o alemão pela Lovato, também foram compradas esta semana pelos nossos
concorrentes. Os dois homens olharam para o atraente sobrado de tijolos aparentes onde Demetria vivia, perdidos em seus pensamentos. Com um tom quase selvagem na voz, Joseph rompeu o silêncio:
— Quero que esse vazamento de informações seja imediatamente eliminado, Nicholas.
— Então, rompa seu contrato com a Lovato! Droga! É tão fácil...
— De maneira nenhuma. Quero apanhar Selena e seu misterioso cúmplice com a mão na botija. Diga a Ashley e Sheila que têm toda a liberdade de ação — Joseph entrou na sua Maseratti prateada, mas antes que partisse Nicholas segurou-lhe o braço.
— Isso inclui Demetria? O que faremos com ela?
— Demetria é minha e resolverei esse problema pessoalmente, quando voltar de Paris. Não se metam na minha vida particular!
O ronco possante do carro não impediu que Joseph ouvisse as últimas palavras do irmão:
— Pode ficar tranqüilo. Tomarei conta dela enquanto você estiver fora! Prendendo a grossa trança dourada em torno da cabeça, Demetria ignorou o toque insistente da campainha. Já estava atrasada demais e talvez a pessoa desistisse e fosse embora. Entretanto, ao ver que a campainha soava novamente, apanhou sua bolsa e dirigiu-se à porta disposta a receber quem quer fosse já do lado de fora do apartamento. Iria ter que agüentar as críticas maldosas de Selena pelo seu atraso e não queria piorar ainda mais a situação, principalmente depois do telefonema matinal. Ao ver diante de si o sorridente Nicholas, ela explodiu:
— Fora daqui, senhor Jonas! Já me perturbaram bastante, hoje. Mas ele não fez caso do protesto. Passou rapidamente por Demetria e foi sentar-se no sofá.
— Fora daqui! — ela gritou com raiva. — Não quero Jonas nenhum em minha casa, nunca mais. Vá embora!
— Por favor, Demetria, não grite. Estou com uma dor de cabeça terrível. Deve ser ressaca — Nicholas fez uma careta, massageando a testa. Quando percebeu que ela não conseguia conter o riso diante da encenação, suspirou aliviado: — Graças a Deus você está mais calma! Afinal, não sou um monstro autoritário e arrogante.
— Talvez não seja. Entretanto, continua sendo um Jonas, o que não é nada animador. Afinal, por que voltou?
— Precisava lhe explicar alguns detalhes sobre Joseph. Talvez assim você compreenda melhor o modo autoritário e dominador do meu irmão. Demetria suspirou, desanimada. Ia responder, mas Nicholas a impediu.
— Ouça primeiro, Demetria, por favor.
— Você costuma fazer o trabalho sujo no lugar dele, Nicholas? Foi Joseph quem o enviou? — Não, vim por conta própria, pois é muito importante que você saiba de certos fatos. Por duas vezes, Joseph foi chamado em juízo para esclarecer um processo de paternidade. Na primeira, ainda estava na faculdade e a mulher que o acusou tinha doze anos a mais do que ele.
— Céus! Que rapaz precoce!
— Sem ironias, Demetria. Joseph realmente sempre foi muito mais maduro do que os outros rapazes da mesma idade. Talvez o fato de ter sido criado numa fazenda o tenha tornado ciente dos fatos da vida muito cedo. Enfim, essa mulher viu nele uma oportunidade segura de sair com alguma vantagem da situação. Tivemos muita sorte em conseguir resolver o problema fora dos tribunais. Mesmo contra a vontade, Demetria começou a se interessar pelo assunto e sentou-se para ouvir o resto da história, esquecendo completamente que já estava muito atrasada. Ao vê-la menos tensa, Nicholas ajeitou-se melhor no sofá.
— Gostaria que entendesse nossa atitude de resolver o caso sem muita publicidade
— continuou. — Não queríamos fugir da responsabilidade, caso o filho fosse dele. O importante era evitar um escândalo que prejudicasse todo o futuro de Joseph, tanto profissional quanto pessoal. Minha família pagou e muito, para protegê-lo dos danos morais que um processo causaria a Joseph. Quando a criança nasceu, era uma garotinha loira e muito branca, de olhos azuis como a mãe. Na nossa família não há ninguém que não tenha cabelos negros e pele morena. Era quase impossível que o bebê fosse filho de Joseph.
— E a segunda vez, como foi? — perguntou Demetria, servindo-o de café. Nicholas tomou um gole, escondendo o sorriso. Era óbvio que Demetria estava interessadíssima.
— Ele se envolveu com uma atriz italiana, uma garota que buscava alguém que financiasse seus filmes. Ao perceber que Joseph não iria bancar seu benfeitor, acusou-o de ser o pai da criança que iria ter. As empresas Jonas estavam passando por uma fase difícil, voltando a funcionar depois de uma crise e a situação das nossas ações ainda não era muito firme. Um escândalo com a atriz só poderia nos causar danos irreparáveis. Por sorte, e muitos milhares de dólares, conseguimos impedi-la de levar a público a ameaça. E
a pobre mulher perdeu o bebê logo em seguida. Bem conveniente, não acha? É por isso que Joseph vive desconfiado. Ele foi usado e seu orgulho foi ferido tantas vezes que não posso culpá-lo por estar sempre suspeitando de algum golpe. Precisa se proteger e às vezes o faz de maneira brutal e sem qualquer delicadeza. Mas as mulheres não foram muito generosas com Joseph. Sempre o perseguiram com segundas intenções e ele não acredita mais em sinceridade ou inocência. Não o julgue com muita severidade, Demetria.
— Estou entendendo melhor agora, Nicholas. Mas você concorda que é um absurdo me fazer esse tipo de proposta, não? Vocês dois invadem minha casa, me atiram esse documento horrível e esperam que eu aceite tudo com calma? Não há nada de agradável em ser tratada como farsante.
— Claro, Demi. Por isso estou aqui. Joseph ficou tão transtornado com você que perdeu o bom senso.
— Transtornado? E por quê?
— Bem... Acho que não devo me meter nas intimidades entre os dois. Mas gostaria que acreditasse em mim. Joseph é um bom sujeito.
— De qualquer forma, não pretendo mais vê-lo. Pode dizer isso ao seu querido irmãozinho.
— Se não pretende mais vê-lo, então por que não assina logo o papel?
— Nicholas!
Ele sorriu, conciliador.
— Pense bem. Seria um jeito de acalmá-lo... e de livrar-se dele. Do contrário, não vai ter paz. Joseph vai se pôr no seu caminho até convencê-la. Demetria encarou-o, pensativa. Havia um fundo de verdade no que ele dissera. Por mais ridículo que lhe parecesse, talvez ali estivesse a saída para seu drama. Assinaria aquele acordo, por que não? Quem sabe Joseph desistisse de procurá-la e...
— Está certo, Nicholas. Pode me trazer esse maldito papel.
— Ótimo! Prometo que vou refazer os termos, incluindo cláusulas sobre os seus direitos, está bem?
Demetria deu de ombros.
— E assim que Joseph voltar de Paris, ele mesmo trará o documento.
— Ah, ele vai viajar? — Demetria tentou parecer indiferente, mas a voz traiu uma certa decepção.
— Sim, mas é por pouco tempo. Umas duas semanas, no máximo. Pediu que eu tomasse conta de você, enquanto isso — Nicholas levantou-se para sair.
— Não há necessidade de me controlar, Nicholas — ela respondeu irritada. — Eu já disse que assinarei o acordo.
— Mas não aceitaria um pouco da minha companhia? Que tal um jantar amanhã?
— Nem pense nisso! Um Jonas na minha vida já é demais. Vocês são grandes causadores de problemas.
— E se eu prometer tratá-la como uma irmã? É um tipo de relacionamento que sinto falta.
— Está brincando! Ou será que é seu estilo de conquista?
— Nem uma coisa nem outra. Eu amava muito minha irmã e, embora ela fosse três anos mais nova, nós dois éramos muito unidos, sempre estávamos juntos. De uma certa maneira, você me faz lembrar dela.
A raiva de Demetria dissolveu-se diante da sinceridade daqueles olhos azuis. Com efeito, os homens da família Jonas tinham um charme! Lembranças da noite voltaram à sua mente e a recordação dos carinhos de Joseph deixou-a trêmula.
— Obrigada pelo convite, Nicholas, mas não pretendo mesmo jantar com você. Agora vai me desculpar, mas já estou muito atrasada.
— Eu a levarei aonde quiser. Nenhum lugar é caro ou longe demais para mim. Comida francesa, grega, italiana... até chinesa, que eu odeio. Por favor, passe algumas horas tranqüilas jantando comigo. Estou cansado de sair com mulheres cujo único objetivo é ter acesso à minha conta no banco ou me arrastar para o altar.
— E por que acha que eu serei diferente?
— Ora, porque você pertence a Joseph.
— Meu caro, eu não pertenço a homem nenhum! — explodiu Demetria, empurrando-o para fora e fechando a porta com estrondo.
— Não aceitarei um não, Demi. Telefono mais tarde! — ele gritou. Subitamente, ela viu o lado cômico da situação e começou a rir.
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Hey amores <3 Bem Vindo Setembro <3 Aqui está mais um capítulo da fic (: Desculpem se tiver algum erro,é que não deu tempo de eu reler e revisar ele,mas enfim estão gostando da fic? Espero que sim..haha' Logo posto "Shouldn't Come Back";; COMENTEM..BEIJOS..XOXO!
sexta-feira, 29 de agosto de 2014
A Bela Espiã - Capítulo 02
Com a cabeça inclinada, Joseph estava concentrado nas traduções que Demetria trouxera, ignorando-a por completo desde o momento em que haviam deixado o restaurante.
Sentada numa confortável poltrona de veludo ferrugem, ela fitava os cabelos muito negros e os ombros largos do homem à sua frente. O fato de estar no apartamento de Joseph despertava fantasias absurdas em sua mente. O vinho começava a fazer efeito, sem dúvida. Procurando afastar essas idéias loucas, Demetria tentou se interessar pela decoração do luxuoso apartamento de cobertura. A sala era forrada de madeira escura e os móveis tinham tons pastel. Havia um refinamento extremo em cada detalhe, mas o que mais a atraía era a visão entrevista pela enorme porta de mogno.
Uma das maiores camas que ela já vira destacava-se com seus lençóis de cetim cor de ouro velho. Demetria se considerava uma moça sofisticada, tendo vivido em Londres e Paris, porém suas experiências não incluíam hábitos ou apartamentos de homens solteiros.Era a primeira vez que via uma cama tão convidativa.
Realmente, seus pensamentos não deixavam de voltar ao ponto de partida! Como se sentiria ao ser tocada pelas mãos fortes de Joseph? Seriam capazes de ternura ou revelariam o lado primitivo daquele homem?
Afinal de contas, ela era uma mulher adulta e tão normal quanto as outras, portanto não havia por que se censurar por seus pensamentos eróticos. Também não adiantava pôr a culpa no vinho... Na verdade há três meses Joseph lhe atormentava cada minuto do dia e da noite. E agora, finalmente, estavam os dois ali sozinhos, numa situação convidativa. Demetria sacudiu a cabeça, chocada por compreender o que estava desejando. Como poderia pensar que uma noite com Joseph conseguiria liquidar com sua fixação por ele? E se fosse exatamente o contrário?
— Não estamos mais na época vitoriana. Hoje uma mulher pode ser tão independente quanto um homem e fazer amor sem nenhum envolvimento afetivo! — disse a si mesma, analisando o problema, mas ainda sem coragem de tomar uma atitude.
Percebeu que desejos reprimidos por muitos anos não desapareciam com tanta facilidade. Descobrira de uma maneira brusca o quanto sua vida era vazia, não só de amigos, como também de intimidade e contato com o sexo oposto. Nenhum outro homem lhe despertara essa atração irresistível. Por que não seguir uma única vez os seus instintos, dedicando a noite apenas para si própria?
"Não! Não posso fazer isso!", censurou-se, indo até a janela para tomar um pouco de ar fresco. Estava ficando completamente atordoada pela mistura perigosa de muito vinho e um homem fascinante. Ainda mais grave era sua pretensão de tentar seduzir um sedutor!
— Demi, poderia vir até aqui e me explicar alguns detalhes? — ele pediu, acompanhando-lhe os movimentos do corpo sensual. Desde o minuto em que sentara para examinar as traduções, não tinha conseguido concentrar-se. Estava ligado a cada suspiro, a cada movimento de Demetria. Agora, muito próxima, Joseph podia sentir-lhe o perfume e ouvir-lhe a respiração.
— Qual delas está revendo?
— Já terminei as cartas em francês e espanhol, mas o alemão... Em todo caso, como as anteriores estavam excelentes, suponho que estas também não tenham problemas.
— Tenho certeza de que não. Eu verifico palavra por palavra depois de terminá-las — afirmou Demetria, inclinando-se propositalmente e encostando nele.
Joseph sentiu o seio rijo roçar-lhe o braço e precisou controlar-se para não demonstrar a onda de excitação que o envolveu. Entretanto, Demetria percebeu-lhe a respiração alterada e exultou ao ver que ele a desejava também. Era uma sensação atordoante saber que despertara nele reações tão violentas quanto as suas.
— Normalmente, não presto atenção às cartas que traduzo, mas fiquei interessada nessas últimas. Por que uma empresa de eletrônica usaria tanto aço importado da Alemanha? Desculpe-me, talvez não seja da minha conta, mas... achei intrigante.
O olhar de Joseph tornou-se frio e, virando-se de frente para ela, observou-a com
atenção. O que Demetria pretendia saber? Entretanto, ela acabava de sentar-se sobre sua escrivaninha e essa visão o perturbou profundamente.
A seda fina moldava as coxas bem-feitas e Demetria cruzou as pernas, provocante. "Ela está querendo me tentar!", pensou Joseph, intrigado. Demetria estaria usando o mais velho truque do mundo, de oferecer seu corpo para obter informações? Seria realmente a culpada de tudo, apesar de suas respostas inocentes?
Fosse o que fosse, ela parecia estar atingindo seu objetivo, de repente, Joseph só conseguia pensar em como seria bom soltar a pesada trança dourada e mergulhar o rosto naqueles cabelos brilhantes como seda. Assim mesmo, decidiu deixá-la tomar a iniciativa para ver até onde Demetria seria capaz de chegar.
— Será que é minha imaginação ou você está mesmo querendo me seduzir, Demi?
— Oh! Não pensei que fosse tão evidente — ela sussurrou, surpresa com a própria calma. O dilema entre certo e errado havia desaparecido como por encanto. De repente, Demetria via-se diante de um fato consumado. Com alguns sorrisos insinuantes e movimentos provocantes, criara entre os dois um envolvimento do qual não poderia mais recuar. O olhar de Joseph exprimia todo o desejo que o consumia e sua determinação de ir até o fim. Qualquer dúvida que ainda restasse foi dissipada pelo calor dos braços que a rodearam. Ela perdeu-se na magia do toque ardente dos lábios de Joseph. Enquanto ele explorava sensualmente a maciez da boca de Demetria, foi soltando-lhe a trança até espalhar os cabelos como um manto dourado.
— Não corte nunca esses cabelos... — pediu, com um murmúrio rouco. Ela sentiu uma chama acender-se no centro de seu ser e quando ele tocou os seios rijos, soltou um suspiro de prazer. Estava sendo envolvida num turbilhão de sensações, perdendo todo o controle de seu corpo que reagia ao toque de Joseph como jamais imaginara ser possível. Antes mesmo de poder tocá-lo, percebeu que seu vestido escorregava para o chão.Pela primeira vez naquela noite, ela sentiu vergonha... estava quase nua diante de um
homem que conhecia há poucas horas. O sutiã de renda mal cobria os seios firmes e a minúscula calcinha mais evidenciava do que escondia sua deliciosa feminilidade.
— Joseph, eu...
— Não diga nada, querida. Seu corpo é a visão mais linda que já tive... pele de magnólia e botões de rosa...
— Eu preciso...
Antes de terminar, ele a beijou novamente, com mais insistência, e Demetria rendeu-se ao prazer.
Tomando-a nos braços, Joseph carregou-a até o quarto e deitou-a na cama. Só então ele retirou com gestos impacientes as últimas barreiras que o impediam de apreciar a beleza da nudez total. Depois tirou suas próprias roupas, enquanto Demetria admirava as proporções perfeitas daquele corpo masculino, evidenciando a beleza de um homem tomado pelo desejo. Ela queria esclarecer muitas coisas, mas qualquer palavra quebraria o momento mágico. Não poderia suportar que Joseph não a tocasse mais e por isso calou-se, mal podendo respirar de ansiedade. Quando finalmente ele deitou-se ao seu lado, Demetria não pôde evitar um estremecimento e involuntariamente se afastou.
— O que é isso, querida? Você me deseja, não? Diga... não foi por isso que esperou a noite toda?
— Não, Joseph, eu...
Mesmo sabendo que deveria deixá-la falar, que era o único modo de surpreendê-la numa contradição, Joseph não podia se controlar. Aquela mulher acendia nele um desejo muito mais intenso do que todas as outras. As mãos pareciam ter vontade própria e deslizavam pelo corpo sensual em busca dos recantos mais secretos e sua boca percorria a pele sedosa numa trilha de fogo. Perdida num mundo de sensações, Demetria entregou-se às carícias enlouquecedoras que a faziam gemer de prazer.
— Quero você agora, Demi... sei que está pronta para me amar... — Joseph entreabriu-lhe as pernas e num movimento rápido penetrou-a, sem poder mais esperar. Para sua surpresa, sentiu-a ficar tensa e ouviu-lhe o grito abafado.
— Oh! Meu Deus!... Sua tolinha! — Joseph esforçou-se por manter a disciplina, mas ela o enlouquecera de desejo e não pôde conter seu prazer por nem mais um segundo. Apenas a respiração ofegante dos dois perturbava o silêncio do quarto. Na penumbra, o corpo de Demetria brilhava como madrepérola, num jogo de sombras e luzes que ressaltavam suas curvas sensuais. Acariciando os mamilos rosados e eretos, com a ponta dos dedos, Joseph sorriu:
— Por que não me disse nada, querida? Você me provocou tanto que pensei... Não era bem isso que esperava do amor, era?
Envergonhada, Demetria afastou as mãos dele e tentou sair da cama, mas Joseph puxou-a de encontro ao peito.
— Nada disso, gatinha. Mulher alguma sai da minha cama com esse ar de frustração... Ainda nem começamos nossa viagem de prazer!
— Não, pare...
— Não há necessidade de palavras. Deixe apenas seu corpo responder ao meu... Afastando as mechas douradas do rosto de Demetria, Joseph cobriu-a de beijos para sufocar sua recusa. Descendo pelo pescoço esguio, chegou até os seios tentadores e colou os lábios no mamilo rijo de desejo, sugando-o avidamente.
Sentindo-a vibrar de prazer, mordiscou-lhe os seios, aumentando a pressão até fazê-la gritar de desejo. Ela jamais tivera sensações tão intensas!
Joseph foi excitando-a lentamente, até que ela própria indicasse o momento exato de ser possuída. Emoções profundas e maravilhosas vieram à tona, abalando-a com sua violência.
Todo o corpo de Demetria vibrava à espera do instante em que Joseph a preencheria com sua virilidade.
— Por favor... agora, Joseph...
Entretanto, ele parecia ter todo o tempo do mundo à sua disposição e continuava a tocá-la, até que um grito de paixão o fez perder os últimos vestígios de controle. Ele mergulhou no calor do corpo de Demetria, arrastando-a num ritmo cada vez mais febril em direção ao êxtase. Ela viu Joseph sorrindo, segundos antes do mundo explodir em milhares de partículas de sensações delirantes. Flutuando de volta à terra, ouviu apenas sua própria voz soluçando de prazer e murmurando sem cessar o nome dele, como uma melodia que jamais esqueceria. Aconchegada aos lençóis macios, Demetria só queria continuar sentindo aquela doce tranqüilidade. Por isso, foi com preguiça que entreabriu os olhos, ao sentir que Joseph a tocava no braço.
— Vamos lá, mocinha. Deixe de fingir que está com sono e levante dessa cama.
— Pare com isso, Joseph...
— Levante-se já! É melhor estar na sala em dois segundos ou garanto que vai se arrepender. E ponha isto! — ele atirou-lhe um roupão de seda preta e saiu do quarto.
O que havia acontecido afinal? Apavorada, sem entender a expressão fria e enfurecida no rosto dele, apressou-se em vestir o robe e sair do quarto. Joseph estava caminhando de um lado para o outro da sala, mas parou ao vê-la parada à porta. Os longos cabelos despenteados, a boca rubra dos beijos trocados há poucos minutos e o corpo que o roupão muito curto mal escondia reacenderam seu desejo. Precisava se controlar ou poria tudo a perder, censurou-se. Aproximando-se dela, puxou as lapelas do roupão para cobrir os seios amplos onde se via na pele muito clara a marca de suas carícias ardentes.
— Sente-se, e comece logo a se explicar antes que eu perca a cabeça! — disse, sem saber se a estava ameaçando ou convidando-a novamente para fazerem amor.
— A me explicar?! Sobre o quê? — Demetria encarou-o com um misto de raiva e surpresa.
— Olhe aqui, mocinha, fique sabendo que não estou acostumado a seduzir...
— Ei, calma. Se é isso que o preocupa, acho que está perdendo tempo. Afinal, fui eu
quem o seduziu, não é?
— O quê? — Joseph ficou abismado com a expressão de Demetria. Ela o encarava com um ar divertido, não parecendo nem um pouco perturbada com a situação. Droga! Não podia esquecer-se de que essa mulher tinha roubado milhões de sua empresa! Precisava desvendar a trama de uma vez por todas. Demetria fazia parte do grupo que estava lesando os Jonas e ele iria obrigá-la a confessar, custasse o que custasse!
— Muito bem. Então foi você quem me seduziu, não é? Pois vá dizendo logo o quanto o sacrifício de sua virgindade vai me custar. Em dinheiro... Demetria abriu a boca, mas foi incapaz de pronunciar uma só palavra.
— Não adianta fazer esse ar de ofendida... Só quero saber qual foi o preço que Selena estabeleceu pela minha noite de prazer? Afinal, você tem um grande potencial artístico, agiu como foi instruída e creio que terei muito a pagar.
— Selena? O que ela tem a ver com isso? Ouça bem, Joseph, fui para a cama com você porque senti vontade, só isso!
— Ah! Não pense que sou tão idiota! Nada é tão simples assim. Diga logo, antes que eu perca a paciência e faça o que não devo. Quanto, Demetria?
— Não quero nada de você, Joseph. Aliás, não quero nem mesmo voltar a vê-lo.
— Quer dizer que me usou para "alegrar" sua noite? — gritou ele, chocado. A audácia daquela mulher ao dizer-lhe que ele não passava de um amante para uma noite só era inacreditável!
A ironia é que sempre acontecia o contrário com ele: usava as mulheres como um divertimento e jamais voltava a procurá-las. Entretanto, essa mudança de posição não o agradava nem um pouco! Percebendo que a raiva não o levaria a descobrir o que desejava, mudou de tática, perguntando com mais delicadeza:
— Será que poderia me dizer como uma mulher de vinte e sete anos, vivendo numa cidade grande, chegou até essa idade ainda... bem...
— Ainda virgem? Por que isso o incomoda tanto, Joseph? Afinal, não foi você quem perdeu alguma coisa esta noite, só eu, e por livre e espontânea vontade!
— Não perdi, é? Ainda estou esperando para saber quanto esse prazer único vai me custar! Seria muita curiosidade perguntar se você toma pílulas?
— Eu... não... não é meu hábito ir para a cama com desconhecidos. Hoje foi um fato absolutamente fora do normal e... Um terror imenso tomou conta de Demetria ao pensar no que poderia acontecer. Ela se esquecera completamente da possibilidade de uma gravidez.
— É isso que você e Selena tinham em mente? Uma gravidez providencial? Seria muito útil para vocês duas, não? Pois tire essa idéia da cabeça, moça! Mulheres muito mais sofisticadas e espertas já tentaram esse truque sujo comigo e posso lhe garantir que acabaram bem mal.
— Seu tolo cheio de ilusões! Pensa que todas as mulheres do mundo não pensam em mais nada, a não ser em você? No meu caso, não poderia estar mais longe da verdade, Joseph! Agora, por favor, me explique o que Selena tem a ver com tudo isso. — Demetria não se conformava por aqueles olhos verdes estarem tão gelados, tão cheios de desprezo. Esperou pela resposta, mas Joseph apenas esboçou um sorriso de malícia, como se não acreditasse em nada.
Correndo para o quarto, ela vestiu-se depressa, indignada. Quando ficou pronta, voltou para a sala disposta a sair dali. Não queria vê-lo na sua frente por muito tempo! Todavia Joseph, com um copo de conhaque na mão, barrou-lhe a passagem.
— Onde pensa que vai? Ainda não terminamos nossa conversa... tão agradável por sinal!
Sem responder, Demetria desviou-se dele e continuou em direção à saída. De súbito, o copo foi arremessado com violência, explodindo em mil pedaços na porta à sua frente. Apesar do tremor que a assaltou, ela virou-se e enfrentou-o.
— Eu vou para casa, senhor Jonas! Da minha parte, já disse tudo que precisava.
— Pois está muito enganada! Eu não terminei... Quero algumas explicações e não me obrigue a usar métodos pouco gentis para consegui-las! Quero saber de sua combinação com Selena e...— Olhe aqui, senhor Jonas. Sei muito bem que é capaz das maiores brutalidades, porém vou sair daqui agora e se tornar a me ameaçar sou capaz de ir até a primeira delegacia e... .
— Que corajosa! No entanto, você tem razão, é melhor sair mesmo antes que eu lhe dê umas boas palmadas para ensiná-la a não ser tão insolente. Se continuarmos, sou capaz de estrangulá-la. Conversaremos amanhã...
— Adeus, senhor Jonas. Espero não vê-lo nunca mais!
— Adeus, não, Demi! Até amanhã.
Um arrepio percorreu-a ao ouvir o tom frio e ameaçador de Joseph. Só depois que as portas do elevador se fecharam, ela relaxou. Conseguira escapar das garras daquele homem violento e explosivo e agora... não havia mais nada que ele pudesse fazer para atingi-la! Por um longo tempo Joseph ficou imóvel, seguindo em pensamentos o caminho de Demetria até a saída do prédio. Finalmente, numa explosão de raiva, gritou para as paredes.
— Garota mentirosa, trapaceira e desonesta!
Pegando o telefone, esperou até ouvir a voz do irmão e ordenou-lhe autoritário:
— Venha imediatamente até aqui, Nicholas!
Em alguns minutos Nicholas entrou e percebeu de imediato o estado de espírito do
irmão.
— Deixe de beber à toa, Joseph. Ou, pelo menos, quando quiser ficar bêbado, faça-o sem atrapalhar os meus programas. Deixei uma garota fantástica dormindo na minha cama, sabia? Ao chegar perto da porta do quarto viu os lençóis amassados e começou a rir. A expressão de Joseph, no entanto, obrigou-o a engolir a brincadeira que estava prestes a fazer.
— Afinal o que descobriu a respeito das irmãs Lovato? — perguntou, forçando-se a ficar sério.
— Absolutamente nada!
— Bem... Olhe, Joseph, não pretendo ficar aqui a noite inteira, portanto nada de mentiras. Conheço muito bem as suas técnicas de obter informações das mulheres, por isso... Como é que elas estão passando nossos segredos para as fábricas estrangeiras?
— Com os diabos, Nicholas! Não sei! Não cheguei nem a perguntar.
— Puxa! A garota devia ser mesmo excepcional, não?
— Cale a boca! Você não está entendendo nada!
— Então me explique, Joseph! Nosso plano era...
— Sei muito bem como era! Fui eu quem o elaborou, esqueceu? É que... bem... a garota era inocente.
— O quê? Inocente do quê? — Nicholas franziu a testa diante da fisionomia culpada do irmão. — Afinal foi você mesmo quem disse que ela estava envolvida nos roubos.
Olhando para o copo vazio, Joseph nem percebeu o tom abismado do irmão. Uma sensação desagradável tomara conta dele ao pensar nos acontecimentos da noite. Mal se lembrava dos planos roubados ou do dinheiro perdido... apenas conseguia pensar naquele corpo jovem e sensual que tivera em seus braços. E havia sido o primeiro! O que o perturbava, no entanto, era surpreender em si mesmo tamanha mudança.
Jamais quis saber quantos homens havia na vida de qualquer mulher e hoje sentia como se tivesse sido homenageado com a dádiva mais preciosa que uma mulher poderia oferecer. Não, não podia deixar Demetria fugir dele.
— Nicholas! Redija um documento como os outros que fez anteriormente para Demetria Lovato assinar e iremos amanhã até a casa dela. Além disso, procure descobrir como fazer para conseguir tirá-la de Selena. Quero que trabalhe conosco.
— Você ficou louco? Quer colocá-la na empresa? Demetria e a irmã são as principais— Irmã de criação, Nicholas!
— As duas roubaram nossos planos e você quer que eu redija um documento para essa criminosa...
— Demetria nunca roubou ninguém!
— Ah, não?
— Não!
— E como você sabe? A garota o enfeitiçou de tal modo que nem chegou a lhe perguntar nada!
— Ouça, mano. Ela é inocente. Sou até capaz de apostar nosso rancho!
— Muito bem, eu aceito a aposta mas... e Selena? Será que Demetria não percebe o que a irmã está fazendo?
— Acho que não. Por isso pretendo manter Demetria perto de nós. De algum modo, Selena está querendo que a consideremos culpada e pretendo descobrir por quê. O primeiro passo será separar as duas.
Apesar de Nicholas ser seu irmão e também seu advogado particular, Joseph não queria revelar tudo o que se passara ali naquela noite. Já estava se sentindo um traidor em relação a Demi e não iria cometer a indiscrição de revelar os maravilhosos momentos que viveram juntos.
— Então acha que Selena trabalha sozinha?
— Não... ela não está sozinha. Não teria condições de manter tantos contatos na Europa. Alguém está colaborando e é essa pessoa que desejo desmascarar. Mas isso vai levar algum tempo. Por enquanto, o que me preocupa é que Demetria está traduzindo nossas cartas há três meses e...
— Afinal, Demetria está ou não envolvida?
— Não da maneira como imaginamos, Nicholas. Ela está sendo manipulada, tenho certeza... Só não sei qual o motivo.
— Joseph... Quando você disse que Demetria era inocente, estava também se referindo a... quer dizer... ela não tinha nenhuma experiência amorosa, é isso? Um silêncio profundo acolheu a pergunta de Nicholas e sem olhar para o irmão, Joseph assentiu com a cabeça. Depois de uma longa pausa Nicholas suspirou e colocou a mão sobre o ombro do irmão.
— Acho que precisamos de mais uma boa dose de conhaque, Joseph!!
Continua...
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Uii~~ parece que as coisas esquentaram..haha,Demi virgem,vocês esperavam por isso? hasuahsa' Estão gostando da fic? Espero que sim <3, se der posto
"Shouldn't Come Back" ainda hoje...COMENTEM..BEIJOS...XOXO!!
quarta-feira, 27 de agosto de 2014
A Bela Espiã - Capítulo 01
Demetria Lovato olhou ao redor, apreensiva.
Durante o dia inteiro, aquela desagradável sensação de que alguém lhe vigiava cada
movimento não deixara de perturbá-la. Estaria sonhando? Tentou reconstituir os acontecimentos, procurando localizar o momento exato em que começara a ter suspeitas tão absurdas.Ao ir para o escritório de manhã, tudo estivera absolutamente normal. Só depois que Selena a informara da necessidade de ir ao encontro de Joseph Jonas, para rever junto com ele as traduções, é que alguma coisa começou a lhe parecer estranho.
No início Demetria não deu muita atenção ao fato, incapaz de acreditar que alguém se
interessasse em saber de sua vida. Era uma mulher racional e pouco dada a fantasia,
achando que para tudo existia uma explicação lógica. Mas ao sair para fazer algumas
compras antes do encontro, a impressão de que era seguida tornou-se real demais para ser ignorada. A sensação persistia mesmo agora, no luxuoso bar do Westin Oaks Hotel. Demetria estava ali totalmente contra a vontade. Detestava ficar sozinha num bar,mesmo sofisticado como este, e não sentia o menor entusiasmo em conhecer Joseph Jonas.
Há três meses, quando passara a ser a única encarregada das traduções da empresa
Jonas, alguma coisa muito estranha acontecera.
Ao ver uma foto de Joseph Jonas no jornal, Demetria começara uma busca diária de notícias sobre ele, a ponto disso se tornar quase uma obsessão. O pior era que seu interesse não se limitava apenas ao aspecto comercial. Era inegável que a figura atraente dele a fascinava... e também a deixava terrivelmente contrariada.
"Só um psiquiatra, e dos melhores, será capaz de explicar essa minha mania em
torno de um homem desconhecido", pensou ela, com um suspiro. "Devo estar ficando louca!"
Demetria lutara muito para alcançar sua independência financeira e se tornar uma
mulher que não precisaria nunca apoiar-se em um homem para sobreviver. Seu passado fora traumatizante demais e tinha jurado nunca cair na armadilha cruel do casamento,como acontecera com sua mãe.Sentia-se disposta a tudo, menos a ficar na posição passiva de esposa, sujeita a abusos e crueldade por parte de um marido. Pesadelos sobre sua infância infeliz eram um aviso constante de que deveria evitar a qualquer custo se envolver com um homem. Achava que no dia em que se apaixonasse acabaria por se tornar fraca e vulnerável. Entretanto, Joseph Jonas despertara nela um comportamento de adolescente:seguia ansiosamente através dos jornais cada passo e cada palavra de um desconhecido.
Esse seu descontrole a deixava muito perturbada.
Era mesmo uma ironia do destino! Em menos de dez minutos iria se ver diante do
homem que povoava seus sonhos... ou melhor, seus pesadelos. E tudo por culpa de
Selena!Se havia algo que a irritava era ficar sozinha num bar. A cada minuto sua inquietação aumentava.
O local era extremamente elegante e atraía grupos de executivos, além de inúmeros
frequentadores da grande galeria de lojas luxuosas, próxima do Hotel.
Vozes animadas e risos enchiam o ambiente e Demetria sentia-se cada vez menos à
vontade por estar desacompanhada. Por quanto tempo ainda precisaria suportar essa situação?
Vinte minutos mais tarde, sua agitação aumentara a tal ponto que nem os dois copos
de vinho branco tinham conseguido acalmá-la. Cruzando as pernas, com irritação, Demetria atraiu os olhares masculinos mais próximos, que se deliciaram com a visão das formas perfeitas.
A raiva e o nervosismo fizeram com que ela derrubasse um pouco do vinho sobre a
mesa e, num impulso, decidiu ir embora. Se Joseph estava atrasado devido a algum
imprevisto, talvez nem fosse mais comparecer ao encontro marcado e ela não iria ficar esperando feito uma idiota! Ele devia ter tido ao menos a educação de mandar alguém lhe comunicar o fato!
— Srta. Lovato?
Demetria teve um sobressalto ao ouvir a voz feminina. Com certeza era a secretária de
Joseph, que vinha avisá-la de que ele não poderia comparecer. Além de tê-la feito esperar por mais de meia hora, ele se dava ao luxo de não aparecer ao encontro marcado!
— Desculpe-me, senhorita... o sr. Jonas telefonou pedindo que o perdoe, mas está
atrasado. Deverá chegar em quinze minutos e enquanto isso quer lhe oferecer um
aperitivo.
— Obrigada... — Demetria nem sabia dizer se ficara alegre ou triste por Joseph não ter
desistido.
"Como posso sentir uma excitação tão grande e ao mesmo tempo uma sensação de
tragédia iminente?," pensou. Seu olhar caiu sobre o Wall Street Journal, dobrado sobre a cadeira ao lado. O artigo sobre Joseph estava praticamente gravado em sua mente.
Sem dúvida, havia algo de assombroso num homem capaz de controlar tantos
destinos e exercer um poder tão amplo. Embora Demetria não concordasse inteiramente com esse domínio sobre muitas vidas, não conseguia deixar de admirá-lo.Joseph Jonas comandava com autoridade absoluta o imenso império da família.
Uma famosa indústria eletrônica, poços de petróleo, propriedades por todo o sul do Texas,um ou dois bancos e a inigualável fazenda na região de Hill Country, onde criavam cavalos e gado de raça, eram um dos aspectos do complexo econômico que se espalhava pelo mundo inteiro.
Ele assumira essa pesada responsabilidade com apenas vinte e dois anos, devido ao
prematuro abandono dos negócios por seu pai. Mattew Jonas perdera todo o interesse na vida após o trágico acidente onde a mulher e a filha tinham morrido. Embora ele houvesse se recuperado fisicamente, sua mágoa jamais diminuíra e Joseph, mesmo relutante, foi obrigado a tomar as rédeas do império Jonas.
Sua autoridade não foi muito bem aceita no início. Tanto os funcionários como os clientes se ressentiram ao ver um jovem até então considerado como um playboy
irresponsável, com tanto poder nas mãos.
Durante onze anos, Joseph lutou para provar sua capacidade incomum e a visão
aberta de um executivo perfeito. Corria o rumor de que ele reinava sobre todos com mãos de ferro e olhos de águia, não deixando de observar um único detalhe, por mais
insignificante que pudesse parecer. Nada escapava ao seu controle.
O que intrigava Demetria era que uma empresa tão importante como a Jonas
usasse o escritório de sua irmã para suas traduções. Sem dúvida, a "Lovato Tradutores" era uma das melhores no ramo, mas por que a Jonas não tinha um departamento próprio para fazê-las? Afinal, o volume de material a ser traduzido justificaria uma equipe fixa de tradutores.
De repente, Demetria sentiu um arrepio de apreensão e a sensação de ser observada
voltou a incomodá-la. Havia alguém, ali, naquele bar, que a olhava com insistência.
Levantando a cabeça, ela percorreu com atenção cada uma das mesas, encontrando apenas olhares de desejo ou de convite.
Estava a ponto de desistir, quando um par de olhos esverdeados a atraiu. Ela não
conseguiu ver mais nada além do olhar hipnótico que a observava, implacavelmente, à espera de uma reação.
Demetria sentiu uma onda de pânico ao perceber que não conseguia desviar seu olhar, como se estivesse presa por uma força sobrenatural. Tentou romper esse poder invisível que a dominava, mas o desconhecido foi o primeiro a desviá-los.
Antes mesmo de ver, ela soube para onde os olhos esverdeados se dirigiam.
Como se a maioria das luzes tivesse se apagado por encanto, o bar ficou numa
penumbra acolhedora, os ruídos se reduziram a um simples murmúrio. Demetria tinha
certeza de quem acabara de entrar na sala como se alguém lhe tivesse anunciado
claramente o nome do recém-chegado.
Ela jamais tivera uma sensação tão atordoante. Encostando-se na cadeira estofada,
esqueceu de tudo o mais a não ser a figura ainda difusa do homem muito alto parado à entrada. Estava trêmula e queria evitar encará-lo adiando o momento em que teria,
finalmente, Joseph em pessoa diante de si.
Ele não estava sozinho. Acompanhavam-no um outro homem, também alto, e uma
mulher esguia e miúda, que sorria insinuante para...
"Céus, não compreendo mais nada!" pensou Demetria, ao ver o homem de olhos
esverdeados atravessar o salão e abraçar carinhosamente a recém-chegada.
Sem saber o que pensar sobre a ligação de seu perseguidor com o seu cliente,
Demetria olhou para o homem que a obcecava há tantos meses, povoando-lhe os
pensamentos sem deixá-la um momento em paz.
Deixara-se fascinar por um desconhecido e acabara se envolvendo em fantasias
loucas. Perdera toda a capacidade de raciocinar com bom senso!
Homem algum poderia ser tão maravilhoso como uma fantasia. Enfrentá-lo
pessoalmente era a única chance de voltar à normalidade de sua vida organizada,
concluiu.
Como ele ainda não a vira, Demetria pôde examinar despreocupadamente cada
detalhe daquele moreno sedutor.
Apesar do terno clássico, era nítida a força viril do corpo musculoso e dos ombros
muito largos. No olhar orgulhoso, havia uma sombra de mistério e o queixo firme tinha uma arrogância natural.
Demetria estremeceu. O homem que se dirigia à sua mesa era real, emanando uma
vitalidade e uma sensualidade tão intensas, que ela precisou lutar para recuperar o
controle."Não é justo! Como vou me libertar dessa terrível fascinação se só o fato de estar próxima dele já me deixa completamente perturbada?" pensou, apertando o guardanapo num gesto de nervosismo.
Com a garganta seca e o coração aos pulos, ela observou as reações femininas
causadas pela passagem de Joseph.
Ele atravessara o salão com tranqüilidade, parecendo muito à vontade. Os cabelos
negros brilhavam e os olhos frios finalmente a fitaram.
Demetria conhecia cada traço daquele rosto, mas isso não a preparara para o impacto.Quando Joseph colocou as mãos bronzeadas sobre o espaldar da cadeira e fitou-a, sentiu se perdida no verde daqueles olhos.Era um tom de verde que lembrava a sombra de carvalhos, grama recém-cortada e Demetria se surpreendeu ao sentir em Joseph, um homem ligado à terra e não um executivo típico dos centros urbanos.Tudo nele lembrava a natureza primitiva e indomável e mais uma vez ela quis lutar contra a atração que a impelia em direção ao abismo. Não queria de modo algum um homem em sua vida!
Finalmente, com um sorriso que a deixou trêmula, ele perguntou:
— Você é Demetria, a irmã de Selena?
— Somos apenas irmãs de criação, sr. Jonas — respondeu com esforço, rezando para não demonstrar a emoção absurda que a descontrolava.
— Não há necessidade de formalidade entre nós, Demi... prefiro que me chame de Joseph.
— Não... isto é, ... sim, Joseph... — ela gaguejou, confusa. A voz extremamente sedutora não combinava com o brilho duro e ameaçador daqueles olhos verdes.
Depois de pedir mais vinho ao garçom, Joseph acendeu um cigarro, observando por longo tempo cada detalhe da garota sentada à sua frente. Jamais poderia imaginar que a irmã de Selena tivesse uma aparência tão sedutora.
Cabelos dourados, presos numa longa trança, formavam uma coroa em torno do rosto delicado, onde olhos de violeta se destacavam como ametistas. Era uma fisionomia pura e inocente, apenas a boca, de contornos marcados e sensuais, sugeria um temperamento fogoso.Viera preparado para encontrar um outro tipo de mulher, mais vivida... Agora teria que mudar seus planos. Não conseguia se imaginar pressionando uma garota tão ingênua!
Com certeza, Selena a enviara de propósito para confundi-lo e assim afastar as suspeitas sobre si mesma.
Entretanto, por mais inocente que parecesse, Demetria iria ser obrigada a confessar
até que ponto estava envolvida nas atividades criminosas da irmã.
— Então, Demi, me diga por que sua irmã nunca nos apresentou antes? Teria sido
um prazer...
— Ela não é minha irmã, sr. Jonas! Eu trouxe as traduções para o francês e o
alemão, conforme pediu — Demetria sentiu uma certa ironia nas palavras de Joseph, mas não conseguia decifrar o motivo.
— Não aqui, querida! Sua irmã não lhe avisou que essas cartas são confidenciais?
— Irmã de criação, sr. Jonas! Quanto à necessidade de manter segredo, creio que
não precisa se preocupar. Estou perfeitamente ciente disso, desde que Selena me
encarregou das traduções, há três meses.
— Ora, não diga. Eu não sabia disso... — Josepha fitou com raiva, contendo-se com
dificuldade.
Há dois meses, Ashley e Sheila Stone, um casal de talentos extraordinários, descobrira um vazamento de informações confidenciais da Jonas Eletronics. Uma indústria de computadores da Europa estava se beneficiando com os mais bem guardados dos segredos dos Jonas. No entanto, fora apenas há poucas horas que tinham tomado conhecimento de que Demetria era a única tradutora das cartas da empresa. Imediatamente Ashley começara a segui-la.
Joseph marcara o encontro com ela no bar do hotel que ficava em frente ao prédio das empresas Jonas. Era uma maneira de Ashley, Sheila e seu irmão Nicholas Jonas
poderem observar cuidadosamente a maior suspeita da espionagem.
Cerrando os punhos, Josephlutou para não sacudir aquela loirinha frágil até fazê-la
confessar.
Respirando fundo, percebeu os olhares preocupados dos outros três, no outro lado do salão.Seus companheiros o conheciam muito bem e já tinham percebido que seu
temperamento explosivo estava chegando ao limite de sua capacidade de suportar a
tensão. Precisava agir friamente e conseguir o máximo de informações possíveis. Afinal,essa bonequinha loira e sua diabólica irmã haviam roubado nada menos do que dois milhões de dólares da empresa!
— Há quanto tempo trabalha com sua irmã, Demi? Ou será que são sócias?
— Quantas vezes precisarei dizer que somos apenas irmãs de criação?
— Ora, desculpe! É um tanto confuso à primeira vista, já que as duas têm o mesmo
sobrenome. Entretanto, acho que Selena se refere a você como irmã... ou estarei
enganado?
— Tenho certeza de que está enganado. Selena jamais se dignaria a me chamar de
"irmã" a não ser por algum motivo oculto. Nosso relacionamento é apenas profissional, pois não temos laços, nem de afeição, nem de amizade. Aliás, o que ela gosta de contar é como foi magnânima com a pobre irmã de criação, ajudando-a a terminar os estudos através de um empréstimo. É evidente que esquece de mencionar que me paga apenas um quarto do salário normal, retendo o restante para
saldar a minha dívida! — Demetria não conseguiu evitar o tom venenoso, mesmo com a intuição de que Joseph estava provocando-a justamente para que perdesse a calma."Ótimo! Agora a mocinha está mostrando as garras e tenho como enfrentá-la! Chega de rodeios... os ladrões estão brigando entre si e chegou a minha hora...", pensou Joseph,satisfeito.
Tomando mais um gole de vinho, Demetria achou que era impossível esquecer as
mágoas causadas por tantos anos de maus-tratos por parte de Selena. Mas ao ver os olhos verdes fitando-a, interrogadores, desculpou-se.
— Sinto muito... o passado às vezes volta sem avisar, provocando-nos reações
inesperadas.
— Você me parece muito jovem para ter um passado. No entanto, conheço Selena há
mais de dois anos e sempre achei muito desagradável tratar com ela. Acho que
compreendo seu desabafo.
— Que estranho! Ela sempre prefere tratar com os clientes masculinos. — Demetria
replicou, sarcástica. A insistência de Joseph em falar sobre Selena já a estava irritando.
Joseph piscou com um ar de cumplicidade.
— Selena não é meu tipo. Tenho uma preferência marcada por olhos cor de violeta,
pele de magnólia e lábios como pétalas de rosa. . Deviam ter-lhe dado um nome mais
exótico, sabia? "Demetria" não dá idéia de como você é linda.
Pele de magnólia e pétalas de rosa foram as expressões mais banais e gastas que
Demetria já ouvira. Não fosse a sensualidade da voz máscula de Joseph, ela teria rido.
— Diga-me, Demi... por acaso Selena contrata tradutores free-lancers para trabalhar
com você?
— Oh, não. De jeito nenhum!
— E algum dos funcionários costuma levar serviço para ser feito em casa?
— Não. Só eu posso fazer isso.
As respostas de Demetria eram diretas e não davam a impressão de terem sido
ensaiadas. Joseph estava achando cada vez mais difícil decidir se a inocência dela era um disfarce ou não. Segurando a mão delicada entre as suas, ele acariciou devagar a pele macia do pulso frágil.
Perturbada pelo gesto íntimo e pela súbita mudança do rumo da conversa, ela tentou
explicar:
— É uma das regras da firma que nenhum papel seja retirado do escritório.
Entretanto, como o volume e a dificuldade das cartas que vocês têm nos enviado é muito grande e, além disso, o prazo é limitado, Selena decidiu que eu levasse o trabalho para ser feito em casa. Pode ficar certo, Joseph, seus papéis permanecem o tempo todo sob meu controle. Ninguém põe a mão neles, do momento em que os recebo de seus mensageiros até entregá-los de volta aos mesmos.
— Quantos anos você tem, Demetria?
— Vinte e sete. Tenho todos os dentes, não sofro da coluna e dizem que tenho uma
inteligência razoável. Quer saber mais alguma coisa? — ela já estava se cansando das mudanças imprevistas de Joseph. Ora ele a olhava com sensualidade e calor, ora com raiva e frieza.
— Não, não! As suas qualidades já me deixam extremamente satisfeito. Aliás, quando
fica com raiva, o tom de seus olhos é ainda mais lindo... Aposto que ficam assim quando faz amor.
Furiosa, Demetria apanhou a pasta e a bolsa para retirar-se, porém, ele a segurou e a
empurrou de volta para a cadeira.
— Pensei que tivesse mais senso de humor — desculpou-se, intrigado com a
expressão no rosto de Demetria. Até parecia sentir medo de ouvir falar em amor!
O problema de Demetria não era falta de senso de humor e sim o efeito perturbador do que ele dissera antes. Joseph exprimira numa frase o único pensamento que tomara conta dela desde o momento em que o vira entrar naquele bar.
— Fale-me um pouco sobre sua vida, Demi.
— Não há muito a contar.
— Não posso acreditar, deve haver algo de interessante na vida de uma mulher
atraente e inteligente como você.Minha história vai deixá-lo entediado. Eu mesma acho que minha vida é bastante monótona.
— Deixe-me dar minha própria opinião.
— Bem... nasci na Geórgia e meu pai era diplomata, por isso vivi em vários países
diferentes. Talvez seja um dos motivos da minha facilidade para idiomas estrangeiros.
Desde muito cedo precisei me adaptar a línguas e costumes estranhos aos meus, nas
inúmeras escolas que freqüentei. Papai morreu quando eu tinha quinze anos, e três meses mais tarde minha mãe casou-se com Charles, o pai de Selena.
— Isso não a deixou perturbada? Quer dizer... só três meses depois, ela já ter outro
marido?
— Não... na verdade, não muito.
— E depois? O que aconteceu?
— Não vejo por que minha vida...
— Ora, Demi, estou achando muito interessante. Pode continuar!
— Voltamos para os Estados Unidos e eu freqüentei a Universidade do Texas, onde
me formei em Letras. Tirei meu diploma de Francês, Alemão, Italiano e Espanhol. Prestei o exame de mestrado e agora estou tentando completar minha tese de doutorado. Fim da história!
Um olhar cético transfigurou a fisionomia de Joseph. Aquela garota estava tentando
enganá-lo. Provavelmente queria passar-lhe uma imagem falsa, para convencê-lo de sua inocência. Ao perceber a reação dele, Demetria levou um choque. Estava acontecendo alguma coisa da qual ela não tinha a menor noção! O que poderia ter dito para desagradá-lo tanto? Mas o sorriso cativante já havia retornado ao rosto dele.
— Estou sendo uma companhia desagradável demais, srta. Lovato?
— Oh! Desculpe, eu estava distraída...
— Queria perguntar-lhe se aceitaria jantar comigo.
— Eu... bem...
— Precisamos rever as traduções, porém estou morto de fome e não conseguiria me
concentrar. Além disso... Não me obrigue a fazer mais uma refeição solitária!
Sem forças para recusar, Demetria deixou que Joseph a dirigisse através das mesas.
Quando percebeu aonde ele a levava, tentou resistir, mas a pressão no seu braço
aumentou até que pararam diante de uma mesa com as duas pessoas que tinham chegado
com ele e o homem de olhos cinzentos.
— Demetria, esta miniatura de mulher é Sheila Stone. Cumprimentando-a, Demetria
teve a estranha sensação de que todos a examinavam com um interesse exagerado.
— Este é o marido de Sheila, Ashley Stone.
Antes de Demetria poder olhar bem para o homem que tanto a perturbara, Joseph continuou:
— E eis meu irmão, Nicholas.
Sem dúvida, a semelhança entre eles era muito forte, mas Nicholas tinha os traços
mais suaves e os olhos castanhos, além de um sorriso bem-humorado e franco.
— Alô, Demetria. Que prazer. . . Há quanto tempo trabalha com Selena?
— Não é da sua conta, Nicholas! — respondeu Joseph, antes que Demetria pudesse
abrir a boca.
Um silêncio desagradável seguiu-se às palavras rudes. Havia uma tensão evidente
em todos, principalmente nos dois irmãos.
"Por quê? Por que todos parecem estar contra mim? Jamais os vi e no entanto sei
que me acusam de alguma coisa!", ela pensou, disposta a enfrentá-los e esclarecer o
motivo de tanta animosidade.Mas Joseph, com um gesto brusco, afastou-se da mesa apenas com um aceno de despedida. Sem soltar-lhe o braço, levou-a até a porta onde parou para pagar as bebidas.
Demetria voltou-se e encontrou o olhar penetrante de Ashley. O que teria feito para
merecer tanto desprezo de pessoas que nem a conheciam?
Continua...
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PRIMEIROOOO CAPÍTULO DA MINI-FIC então amores,como vocês viram o ca´pítulo é bem grandinho,e todos eles serão assim,essa fic tem 10 capítulos,todos grandes.No último post da sinopse vcs não comentaram :c o que me fez pensar que vocês não estavam curiosos por essa fic,mas enfim aqui está,logo posto.Gostaram?
COMENTEM...BEIJOS...XOXO!!
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