segunda-feira, 1 de setembro de 2014

A Bela Espiã - Capítulo 03


Um som insistente e agudo fez com que Demetria saísse de um sono pesado. O telefone na cabeceira não parava de tocar e ela atendeu ainda mal conseguindo abrir os olhos.
— Alô?
— Você é mesmo incapaz de fazer as coisas certas, não, Demetria? Tinha que estragar tudo, como sempre!
— Selena? Sobre o que está falando?
— Eu devia despedi-la, "querida irmã"!
— Pelo amor de Deus, acalme-se, Selly! Diga ao menos o que fiz de errado.
— Não me chame de Selly! Sem perceber Demetria cometera o erro de chamar a irmã pelo nome carinhoso que o pai costumava usar. Esperou com paciência pela fúria que qualquer lembrança relativa a
Charles Lovato sempre provocava em Selena.
— Você vai se arrepender muito, Demetria... principalmente quando Joseph chegar aí! Tenho a impressão de que vai se arrepender de ter nascido! Completamente confusa, Demetria não podia imaginar como Selena pudera saber sobre a noite anterior.
— Joseph? O que tem ele a ver com a nossa conversa, Selena?
— Que tal ele é?
— Como? Não entendo...
— Joseph é tão sensual quanto parece? Quero dizer na cama, sua boboca. Quem iria imaginar que a nossa puritana Demi...
— Selena, não tenho a menor idéia do que está querendo dizer!
— Não mesmo? Pois deixe-me esclarecê-la, queridinha. Hoje exatamente às quinze para as oito, Joseph Jonas apareceu no escritório para falar com você. Quando eu lhe disse que só chegaria às nove e meia, ele exigiu seu endereço.
— Selena, você não disse onde eu morava, não é?
— Está maluca? Lógico que disse e bem depressa. Ninguém consegue dizer não a Joseph Jonas. Aliás... quem melhor do que você para saber disso? Depois da noite passada, deve saber como ele é insistente. Dou a mão à palmatória, "irmãzinha"! Você deve ter algum segredo que encanta os homens, pois Joseph parecia estar ansioso para repetir a dose. Mas estou avisando. Tome cuidado e faça seu jogo bem direitinho! Ouvindo a risada sarcástica, Demetria desligou o telefone com raiva. Jamais conseguiria entender como um homem amoroso e delicado como Charles Lovato pudera ter uma filha tão maldosa como Selena. Desde que a conheceu, Demetria tentara ser gentil e não criar casos, mas a outra a perseguira implacavelmente. Quando Charles se casara com a mãe de Demetria a situação se tornara bastante
difícil. Era uma garota tímida e carente de afeto. Charles a apoiara e conseguira fazê-la sentir-se amada. Com uma paciência infinita, ele a conquistara, mesmo que com isso provocasse um ressentimento violento na filha. Desde essa época Selena a culpava pela perda da afeição do pai e no fundo ela se
sentia mesmo culpada por isso. A irmã não perdia uma única chance de lembrar-lhe essa culpa, torturando-a a todo momento. Demetria fechou os olhos, tentando afastar a mágoa que aquelas lembranças provocavam. Às vezes, tinha a sensação de que sua vida era uma enorme confusão, cheia de surpresa. Joseph... como pudera abrir mão dos princípios cuidadosamente alimentados durante anos? Havia jurado jamais se envolver com nenhum homem e no entanto... Bem, agora restava o consolo de saber que esse fato jamais tornaria a acontecer. Pelo menos, não com Joseph Jonas.
Levantando-se de um salto decidiu que precisava enfrentar mais um dia de trabalho, deixando de lado a angústia. De nada adiantava ficar na cama se lastimando. O que estava feito, estava feito, e pronto. Depois de um banho rápido, Demetria vestiu um velho roupão de veludo lilás, aplicou a maquilagem leve que usava para ir trabalhar e deixou para pentear os longos cabelos loiros depois do café. Ao atravessar a sala, ainda parou um instante, observando cada detalhe daquelas peças, herdadas de sua mãe. Eram antiguidades muito valiosas, principalmente pelo amor e carinho com que tinham sido reunidas. A decoração criava um ambiente aconchegante, cuja característica mais evidente era a simpática mistura de estilos e épocas.
O cristal lapidado dos abajures de cristal francês refletia a luz da manhã, formando um bonito jogo de sombras na madeira polida dos aparadores de estilo inglês e na lã macia dos tapetes persas. Um conjunto de sofá e poltronas de junco chinês laqueado de preto, antigo e bastante usado, tornava-se mais alegre pelo tecido de flores miúdas em tons de azul. Aquela sala sempre lhe transmitia uma sensação de paz, ela pensou, com um suspiro. Era como se estivesse ao abrigo das hostilidades. Como se fosse de propósito, exatamente nesse instante o toque estridente da campainha provocou-lhe um sobressalto. Quem mais podia ser? Joseph Jonas não perdera tempo! Com o coração aos pulos, Demetria caminhou devagar até a porta. Afinal, homem nenhum poderia magoá-la mais do que já sofrerá no passado, pensou. Não tinha medo dele.
No entanto, nem teve tempo de preparar-se para a invasão que se seguiu. Joseph, acompanhado de Nicholas empurraram-na sem cerimônia e entraram. Furiosa, Demetria parou com as mãos na cintura e olhou-os com ódio. Como se atreviam a agir desse modo em sua casa? O que ela não se deu conta foi do impacto que causou nos dois homens. Seus longos cabelos dourados caíam como um véu brilhante e o roupão, mal fechado, oferecia uma visão generosa dos seios perfeitos e quase totalmente descobertos.
Tenso e tomado pelo desejo de tocá-la, Joseph precisou de todo seu controle para disfarçar a perturbação.
— Bom dia, Demi. Temos que terminar de resolver alguns negócios, lembra?
— Não tenho a menor idéia do que possam ser esses negócios, sr. Jonas!
— Creio que estes papéis a esclarecerão, é só lê-los — explicou Joseph, entregando-lhe uma folha de papel timbrado. Em seguida, sentou-se muito à vontade no sofá, colocando os pés sobre a preciosa mesinha de laca chinesa.Ao vê-lo tão descontraído e arrogante, agindo como se fosse um freqüentador íntimo
de sua casa, Demetria perdeu os últimos vestígios de calma. Além disso, Nicholas a examinava com um sorriso malicioso, como se ela fosse mais uma das inúmeras conquistas do playboy Joseph Jonas!
— Não os convidei a entrarem em minha casa! — explodiu, jogando o papel sobre a mesinha. — Vou tomar o meu café e por isso, se me derem licença...
— Posso tomar uma xícara também, Demi? Esse diabo do Joseph me arrancou da cama tão cedo que não tive tempo de fazer nada...
Sem responder, ela deu-lhes as costas e foi para a cozinha. Encostou-se à porta para tomar fôlego, morta de raiva. Aqueles olhos verdes! Droga, até quando aquele demônio continuaria torturando sua vida? Bastava ver-se diante dele para que seu corpo ardesse, inflamado de desejo. Antes tudo não passara de uma fantasia louca, mas agora que o conhecera sentia-se dentro de um turbilhão. Queria desesperadamente ser envolvida pelos braços fortes e fundir-se àquele corpo musculoso e viril que a levara ao delírio.
"Não, não, não", murmurou, desesperada. Joseph não era diferente dos outros homens, não devia deixar-se levar pelo fascínio. Todos os seus sonhos e esperanças tinham sido destruídos muitas vezes para que confiasse novamente em algum representante do outro sexo.
Enquanto arrumava a bandeja de prata com as xícaras para o café, Demetria tentou não pensar em Stwart Steel. Mas a figura marcante de seu pai não era fácil de ser esquecida. Homens como ele deviam ser punidos pela lei. Mas Stwart sempre fora brilhante... Jamais agredira fisicamente a esposa ou a filha. Usava sua inteligência e seu sarcasmo para destruí-las e reduzi-las a criaturas derrotadas e sem vontade própria. Cicatrizes muito profundas que a magoavam até hoje voltaram à tona e Demetria sacudiu a cabeça, num
gesto inconsciente. Era preferível enfrentar os dois irmãos que a esperavam na sala do que
os fantasmas do passado. Depois de servi-los, ela pegou o papel que Joseph lhe entregara pouco antes e começou a lê-lo. Observando-a, Joseph ficou em dúvida se não estaria sendo muito precipitado em
deixar-se conduzir pelas emoções. Mas o fato é que aquela mulher o atraía terrivelmente. Não podia mais imaginar uma noite longe dela. Claro, pensava apenas numa companheira que lhe desse prazer. Não seria por muito tempo, mas, enquanto a paixão durasse, queria Demetria sob seu controle. Ao ler as primeiras linhas, Demetria sentiu como se tivesse levado um soco. Incrédula, começou tudo de novo, achando que havia se enganado. Mas não. Aquelas palavras abomináveis saltavam diante de seus olhos.
— "Eu, Demetria Lovato, concordo com o seguinte..." — leu em voz alta. — Você quer que eu assine um documento que o isenta de qualquer responsabilidade caso eu tenha um filho? O que significa isso, Joseph? Só pode ser alguma brincadeira de mau gosto! Inclusive a não usar o nome da família ou receber auxílio financeiro... Que loucura!
— Ouça, Demi... Talvez haja algo que você não tenha entendido e foi por isso que trouxe Nicholas comigo. Além de ser o advogado das empresas Jonas, é meu advogado particular. A vergonha que ela sentiu foi tão grande que lhe provocou náuseas. Saber que Nicholas fora informado de todos os detalhes da noite de paixão que passara com Joseph era uma humilhação brutal. Jamais fora tão insultada nem se sentira tão degradada em toda a sua vida!
— Sei o quanto isso pode ser embaraçoso, Demi... Só lhe peço que imagine o quanto Joseph é visado por oportunistas e caçadoras de dote. Uma ação para provar a paternidade de uma criança é muito difícil... E afinal, foi você quem se ofereceu a ele, não?
— Cale a boca, Nicholas! Demi, eu não disse isso a ele, acredite! Ela o fuzilou com os olhos antes de jogar o papel sobre a mesa.
— Vocês têm dois segundos para sumirem daqui! Fora!
— Demetria, você vai assinar este papel, nem que eu precise... Os dois se encararam em silêncio, ele ameaçador, ela furiosa. Demetria sentia vontade de esbofeteá-lo, de gritar, de fazer qualquer coisa para acabar com a situação ridícula e descabida que havia se criado. Nicholas observava a cena, entre divertido e preocupado. De repente, a expressão dela mudou, tornando-se irônica. Se Joseph Jonas achava que
podia tratá-la desse modo, estava muito enganado!
— Pensa que sou idiota, Joseph? — perguntou num tom deliberadamente cínico. — Uma cabeça de vento como as suas debutantes, prontas a ceder aos seus desejos? Pois se enganou comigo! Em primeiro lugar, uma única noite não significa que eu esteja grávida; aliás, pelas estatísticas, isso seria muito difícil. Em segundo, esse acordo é totalmente a favor dos Jonas e eu quero os meus direitos! Onde está escrito como serei protegida pela lei?
— Ora, Demi! Você é quem pode levar vantagens neste caso. Eu sou o lesado, esqueceu?
— Não diga! Pois vejo as coisas bem diferentes. Se eu assinar, estarei cedendo todos os meus direitos, inclusive a possibilidade de ficar com meu filho, se Joseph assim exigir! Onde está a integridade de que a família Jonas tanto se gaba? Diga-me, Nicholas, se eu fosse sua cliente, me aconselharia a assinar este papel?
— Bem... não a deixaria fazer isso. Na verdade, diria que o rasgasse em mil pedaços!
— Nicholas! Pare de se meter onde não é chamado!
— Sinto muito, Joseph. Não sou seu advogado, Demetria, mas conheço bem meu irmão. Se você não assinar, ele tornará sua vida um inferno, mas assim mesmo concordo que é um documento em favor dos Jonas. Talvez fosse melhor redigir um novo texto, com referências precisas aos seus direitos. Eu sei que não tinha planejado ir para a cama com Joseph, mas ele também não podia saber que você era...
— Cale a boca, Nicholas! Nicholas, com a maior calma, levantou-se e pediu para usar o telefone da cozinha, deixando-os a sós, de propósito. Demetria encarou Joseph com tamanho ódio que ele quase recuou. Antes que ela dissesse qualquer coisa, apressou-se em se justificar.
— Ele é meu irmão, Demi, meu confidente. Não há motivos para ficar embaraçada. Mas você há de concordar que é muito estranho uma mulher, de vinte e sete anos, ter ficado até agora... quer dizer, até ontem, sem... sem...
— Sem experiência?
— E, afinal, hoje em dia...
— Não tive tempo, meu caro.
— Essa é a resposta mais idiota que já ouvi!
— Pois é a única que um idiota merece.
A porta da cozinha se abriu e Nicholas apareceu, dirigindo-se a Joseph.
— Há problemas sérios no escritório, Joseph, precisamos ir já. Sinto muito interromper essa visita tão agradável, mas... Contrariado, Joseph levantou-se e Demetria nem se deu ao trabalho de acompanhá-los até a porta. Tudo o que desejava era ver-se livre dos dois. No entanto, depois que se passaram alguns minutos, ela correu até a janela e afastou ligeiramente as cortinas. Os dois irmãos conversavam diante dos carros. Da mesma altura e bastante parecidos, o que os distinguia era a aura de domínio e autoridade que emanava de Joseph. Demetria viu-se outra vez dilacerada pelo conflito interior. A razão lhe dizia que precisava afastar-se dele antes que tudo estivesse perdido, mas a atração parecia irresistível, mesmo depois daquele confronto absurdo. Ela pressentia que o comportamento
de Joseph refletia a reação dele e alguma coisa que o atingira profundamente. Talvez não estivesse acostumado a perder o controle da situação e por isso tentasse um recurso extremo, para humilhá-la e assim quebrar-lhe a resistência. De qualquer forma, o episódio da noite anterior não iria se repetir, prometeu a si
mesma. Nem que precisasse fugir da cidade, do país... Não, Joseph Jonas jamais dominaria sua vida, como estava acostumado a fazer com os outros!
— Francamente, Nicholas! Com você por amigo quem precisa de inimigos? Afinal, o
que estava pretendendo fazer, jogando dos dois lados?
— Testando os limites de resistência de Demetria, meu caro irmão. Aliás, depois desse resultado desastroso, não creio que você tenha coragem de lhe entregar os outros contratos... Com um gesto brusco, Joseph retirou do bolso do paletó o contrato de emprego e suas ofertas para estabelecê-la como amante e picou-os em mil pedaços, jogando-os pela calçada.
— Se pudesse ver a sua cara quando Demetria disse que não era igual às suas debutantes de inteligência microscópica. Aliás, é a pura verdade. Essa mulher é incrível!
— Deixe de bancar o Judas! Você quase passou para o lado dela. Mas há uma coisa que me intriga, Nicholas. Demetria manteve o sangue-frio, sem dúvida, mas parecia existir medo atrás da fisionomia supostamente serena. Estou ficando louco ou você também percebeu?
— Ela é uma mulher cheia de contradições, e creio que você tem razão, Demetria está apavorada com alguma coisa, não sei bem o quê.
— Não pense que o medo vem da possibilidade de ser desmascarada. Demetria não é a culpada da venda dos nossos segredos. E outra coisa, Nicholas. Não gostei nem um pouco de ser afastado de lá contra a minha vontade. Você nem me deixou terminar.
— Havia motivos, Joseph. Estamos com problemas bem mais sérios! O nosso enviado
foi assaltado no aeroporto de Orly, em Paris. A polícia francesa nos comunicou que ele está ferido, sem perigo de vida, mas a pasta foi roubada.
— Meu Deus! Os contratos para os três engenheiros especializados em desenho de computadores estavam nessa pasta... E também os cálculos para os gastos do nosso novo projeto. Se não me falha a memória, havia também uma carta pedindo que reforçassem a segurança. Que ironia, não acha?
— Isso não foi tudo, Joseph. Os contatos de Ashley na E.T.A. Oil o informaram de que compraram no mercado negro europeu uma parte de nossos planos sobre o novo computador. Ainda não conseguiram decodificá-los, mas estão sabendo que a Jonas tem pesquisado e pretende lançar no mercado um novo tipo de computador especializado em pesquisas petrolíferas. As especificações do desenho da válvula, que foram traduzidas para o alemão pela Lovato, também foram compradas esta semana pelos nossos
concorrentes. Os dois homens olharam para o atraente sobrado de tijolos aparentes onde Demetria vivia, perdidos em seus pensamentos. Com um tom quase selvagem na voz, Joseph rompeu o silêncio:
— Quero que esse vazamento de informações seja imediatamente eliminado, Nicholas.
— Então, rompa seu contrato com a Lovato! Droga! É tão fácil...
— De maneira nenhuma. Quero apanhar Selena e seu misterioso cúmplice com a mão na botija. Diga a Ashley e Sheila que têm toda a liberdade de ação — Joseph entrou na sua Maseratti prateada, mas antes que partisse Nicholas segurou-lhe o braço.
— Isso inclui Demetria? O que faremos com ela?
— Demetria é minha e resolverei esse problema pessoalmente, quando voltar de Paris. Não se metam na minha vida particular!
O ronco possante do carro não impediu que Joseph ouvisse as últimas palavras do irmão:
— Pode ficar tranqüilo. Tomarei conta dela enquanto você estiver fora! Prendendo a grossa trança dourada em torno da cabeça, Demetria ignorou o toque insistente da campainha. Já estava atrasada demais e talvez a pessoa desistisse e fosse embora. Entretanto, ao ver que a campainha soava novamente, apanhou sua bolsa e dirigiu-se à porta disposta a receber quem quer fosse já do lado de fora do apartamento. Iria ter que agüentar as críticas maldosas de Selena pelo seu atraso e não queria piorar ainda mais a situação, principalmente depois do telefonema matinal. Ao ver diante de si o sorridente Nicholas, ela explodiu:
— Fora daqui, senhor Jonas! Já me perturbaram bastante, hoje. Mas ele não fez caso do protesto. Passou rapidamente por Demetria e foi sentar-se no sofá.
— Fora daqui! — ela gritou com raiva. — Não quero Jonas nenhum em minha casa, nunca mais. Vá embora!
— Por favor, Demetria, não grite. Estou com uma dor de cabeça terrível. Deve ser ressaca — Nicholas fez uma careta, massageando a testa. Quando percebeu que ela não conseguia conter o riso diante da encenação, suspirou aliviado: — Graças a Deus você está mais calma! Afinal, não sou um monstro autoritário e arrogante.
— Talvez não seja. Entretanto, continua sendo um Jonas, o que não é nada animador. Afinal, por que voltou?
— Precisava lhe explicar alguns detalhes sobre Joseph. Talvez assim você compreenda melhor o modo autoritário e dominador do meu irmão. Demetria suspirou, desanimada. Ia responder, mas Nicholas a impediu.
— Ouça primeiro, Demetria, por favor.
— Você costuma fazer o trabalho sujo no lugar dele, Nicholas? Foi Joseph quem o enviou? — Não, vim por conta própria, pois é muito importante que você saiba de certos fatos. Por duas vezes, Joseph foi chamado em juízo para esclarecer um processo de paternidade. Na primeira, ainda estava na faculdade e a mulher que o acusou tinha doze anos a mais do que ele.
— Céus! Que rapaz precoce!
— Sem ironias, Demetria. Joseph realmente sempre foi muito mais maduro do que os outros rapazes da mesma idade. Talvez o fato de ter sido criado numa fazenda o tenha tornado ciente dos fatos da vida muito cedo. Enfim, essa mulher viu nele uma oportunidade segura de sair com alguma vantagem da situação. Tivemos muita sorte em conseguir resolver o problema fora dos tribunais. Mesmo contra a vontade, Demetria começou a se interessar pelo assunto e sentou-se para ouvir o resto da história, esquecendo completamente que já estava muito atrasada. Ao vê-la menos tensa, Nicholas ajeitou-se melhor no sofá.
— Gostaria que entendesse nossa atitude de resolver o caso sem muita publicidade
— continuou. — Não queríamos fugir da responsabilidade, caso o filho fosse dele. O importante era evitar um escândalo que prejudicasse todo o futuro de Joseph, tanto profissional quanto pessoal. Minha família pagou e muito, para protegê-lo dos danos morais que um processo causaria a Joseph. Quando a criança nasceu, era uma garotinha loira e muito branca, de olhos azuis como a mãe. Na nossa família não há ninguém que não tenha cabelos negros e pele morena. Era quase impossível que o bebê fosse filho de Joseph.
— E a segunda vez, como foi? — perguntou Demetria, servindo-o de café. Nicholas tomou um gole, escondendo o sorriso. Era óbvio que Demetria estava interessadíssima.
— Ele se envolveu com uma atriz italiana, uma garota que buscava alguém que financiasse seus filmes. Ao perceber que Joseph não iria bancar seu benfeitor, acusou-o de ser o pai da criança que iria ter. As empresas Jonas estavam passando por uma fase difícil, voltando a funcionar depois de uma crise e a situação das nossas ações ainda não era muito firme. Um escândalo com a atriz só poderia nos causar danos irreparáveis. Por sorte, e muitos milhares de dólares, conseguimos impedi-la de levar a público a ameaça. E
a pobre mulher perdeu o bebê logo em seguida. Bem conveniente, não acha? É por isso que Joseph vive desconfiado. Ele foi usado e seu orgulho foi ferido tantas vezes que não posso culpá-lo por estar sempre suspeitando de algum golpe. Precisa se proteger e às vezes o faz de maneira brutal e sem qualquer delicadeza. Mas as mulheres não foram muito generosas com Joseph. Sempre o perseguiram com segundas intenções e ele não acredita mais em sinceridade ou inocência. Não o julgue com muita severidade, Demetria.
— Estou entendendo melhor agora, Nicholas. Mas você concorda que é um absurdo me fazer esse tipo de proposta, não? Vocês dois invadem minha casa, me atiram esse documento horrível e esperam que eu aceite tudo com calma? Não há nada de agradável em ser tratada como farsante.
— Claro, Demi. Por isso estou aqui. Joseph ficou tão transtornado com você que perdeu o bom senso.
— Transtornado? E por quê?
— Bem... Acho que não devo me meter nas intimidades entre os dois. Mas gostaria que acreditasse em mim. Joseph é um bom sujeito.
— De qualquer forma, não pretendo mais vê-lo. Pode dizer isso ao seu querido irmãozinho.
— Se não pretende mais vê-lo, então por que não assina logo o papel?
— Nicholas!
Ele sorriu, conciliador.
— Pense bem. Seria um jeito de acalmá-lo... e de livrar-se dele. Do contrário, não vai ter paz. Joseph vai se pôr no seu caminho até convencê-la. Demetria encarou-o, pensativa. Havia um fundo de verdade no que ele dissera. Por mais ridículo que lhe parecesse, talvez ali estivesse a saída para seu drama. Assinaria aquele acordo, por que não? Quem sabe Joseph desistisse de procurá-la e...
— Está certo, Nicholas. Pode me trazer esse maldito papel.
— Ótimo! Prometo que vou refazer os termos, incluindo cláusulas sobre os seus direitos, está bem?
Demetria deu de ombros.
— E assim que Joseph voltar de Paris, ele mesmo trará o documento.
— Ah, ele vai viajar? — Demetria tentou parecer indiferente, mas a voz traiu uma certa decepção.
— Sim, mas é por pouco tempo. Umas duas semanas, no máximo. Pediu que eu tomasse conta de você, enquanto isso — Nicholas levantou-se para sair.
— Não há necessidade de me controlar, Nicholas — ela respondeu irritada. — Eu já disse que assinarei o acordo.
— Mas não aceitaria um pouco da minha companhia? Que tal um jantar amanhã?
— Nem pense nisso! Um Jonas na minha vida já é demais. Vocês são grandes causadores de problemas.
— E se eu prometer tratá-la como uma irmã? É um tipo de relacionamento que sinto falta.
— Está brincando! Ou será que é seu estilo de conquista?
— Nem uma coisa nem outra. Eu amava muito minha irmã e, embora ela fosse três anos mais nova, nós dois éramos muito unidos, sempre estávamos juntos. De uma certa maneira, você me faz lembrar dela.
A raiva de Demetria dissolveu-se diante da sinceridade daqueles olhos azuis. Com efeito, os homens da família Jonas tinham um charme! Lembranças da noite voltaram à sua mente e a recordação dos carinhos de Joseph deixou-a trêmula.
— Obrigada pelo convite, Nicholas, mas não pretendo mesmo jantar com você. Agora vai me desculpar, mas já estou muito atrasada.
— Eu a levarei aonde quiser. Nenhum lugar é caro ou longe demais para mim. Comida francesa, grega, italiana... até chinesa, que eu odeio. Por favor, passe algumas horas tranqüilas jantando comigo. Estou cansado de sair com mulheres cujo único objetivo é ter acesso à minha conta no banco ou me arrastar para o altar.
— E por que acha que eu serei diferente?
— Ora, porque você pertence a Joseph.
— Meu caro, eu não pertenço a homem nenhum! — explodiu Demetria, empurrando-o para fora e fechando a porta com estrondo.
— Não aceitarei um não, Demi. Telefono mais tarde! — ele gritou. Subitamente, ela viu o lado cômico da situação e começou a rir.
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Hey amores <3 Bem Vindo Setembro <3 Aqui está mais um capítulo da fic (: Desculpem se tiver algum erro,é que não deu tempo de eu reler e revisar ele,mas enfim estão gostando da fic? Espero que sim..haha' Logo posto "Shouldn't Come Back";; COMENTEM..BEIJOS..XOXO!